quarta-feira, 3 de março de 2010

Saindo de casa, cai um dilúvio. Daqueles que é bonito de assistir. Daqueles que liberam um odor muito peculiar e saboroso. E sim, ele decidiu me acompanhar durante o caminho todo. Mas era bom.
Eu estreava meu novo guarda-chuva amarelo, com personagem de desenho animado e infantil, é claro. Até perguntei para o vendedor se havia um guarda-chuva igual, porém no tamanho para adultos e realmente acho desnecessário informar a resposta.
Me senti como uma criança de novo, feliz da vida, por ter um guarda-chuva tão alegre, no meio de tantos outros pálidos e tristes. Até que observei, caminhando em minha direção, um garoto que deveria ter no máximo doze anos de idade, com um guarda-chuva cinza, triste e grande para adultos. Fiquei perplexa ao ver que o garoto não carregava um guarda-chuva alegre, ou pelo menos com personagens, afinal, a graça de ser novo, é poder se divertir com coisas assim. E pensei que realmente, se até as crianças não se divertem mais com gurda-chuvas coloridos, qual será o futuro das cores um dia?
Enfim, após pensar em todas essas coisas, passei por um ponto de ônibus e pude perceber mil cabeças torcendo o pescoço para olhar o super ultra amarelo guarda-chuva que me acompanhava. Sim, acompanhava. Porque um guarda-chuva com tanta alegria, tem quase vida própria, portanto não pode ser levado ou carregado, mas sim, me fazer companhia para todos os lugares que vou. Então, retomando, as pessoas do ponto de ônibus olharam para mim e principalmente para meu guarda-chuva que caminhava comigo, sobre mim, e olharam aquela cena com grandes olhos julgadores e certos e socialmente aceitos e completamente cheios de bom senso e sem nenhum tipo de insanidade e, com certeza, naquele momento, pude ler seus pensamentos como faz aquele bebedor de sangue do filmezinho de meninas apaixonadas. Eles variavam em: "nossa, ela tá muito velha pra isso", "pode ser bonitinho, mas é inútil, é de criança, por isso molha tudo", "essa é louca mesmo, guarda-chuva pequeno, óculos grandes e cara de lunática", "nossa, amarelo é simplesmente a coisa menos fashion que existe, não combina nenhum pouco com a roupa dela!".
E todos esses pensamentos do que eles poderiam estar pensando foram pensados por mim em um flash de exatamente 4,557658678 segundos.
Cheguei na faculdade, fechei meu companheiro e grande amigo amarelo e quando o sol subia, vi seu rosto amarelo iluminado e pensei: "Putz, tô atrasada!"

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