Tua beleza se esconde por trás
de máscaras de crueldade e repressão.
És frio e duro e podre
és falso moralista
és tão belo que machuca toda a minha alma
quando te vejo.
Tua beleza está quando te encontro garoto,
quando deixas de ser homem, em toda a tua covardia
quando me deixas em prantos e em solidão.
És tão belo, que choro.
És um rosto inatingível e lindo
e és amargo.
És o beijo adocicado,
e és minha fria morte, o pecado.
És o fim do meu dia
e o começo da minha poesia,
és minha destruição em insanidade
e és a vida suspensa em arte.
Tua beleza é o produto tóxico do meu cigarro,
minha tortura.
És enfim, neste momento,
minha triste manhã chuvosa,
minha falta de paciência, meu aperto no peito,
és meu apetite desenfreado
e minha gastrite tortuosa.
És este poema ruim e sem fundamento
és tudo o que não escrevi em prosa.
Tua beleza é meu último verso,
meu exorcismo e meus demônios aguçados.
domingo, 30 de maio de 2010
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Metade
Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio
Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.
Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.
Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.
Oswaldo Montenegro
Metade
Eu perco o chão, eu não acho as palavras
Eu ando tão triste, eu ando pela sala
Eu perco a hora, eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco a chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora?
Eu perco a chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora?
Adriana Calcanhoto
Eu ando tão triste, eu ando pela sala
Eu perco a hora, eu chego no fim
Eu deixo a porta aberta
Eu não moro mais em mim
Eu perco a chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora?
Eu perco a chaves de casa
Eu perco o freio
Estou em milhares de cacos, eu estou ao meio
Onde será que você está agora?
Adriana Calcanhoto
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Soneto da tua partida
E tremo na infinita escuridão
Que arde em teus olhos, ferozes
Surgem em mim, inquietas vozes
Em teus olhos de vasta podridão
És para mim, o mar, a imensidão
Teus beijos, agressivas overdoses
És o cigarro, minhas tuberculoses
És minha morte e ingratidão
E assim te deixo ir com exatidão
Para te perderes n'outros encantos
E espero muito que não me voltes
E na angústia de escuros cantos
Continuam minhas lágrimas, fortes
Perdidas em dolorosa mansidão.
Que arde em teus olhos, ferozes
Surgem em mim, inquietas vozes
Em teus olhos de vasta podridão
És para mim, o mar, a imensidão
Teus beijos, agressivas overdoses
És o cigarro, minhas tuberculoses
És minha morte e ingratidão
E assim te deixo ir com exatidão
Para te perderes n'outros encantos
E espero muito que não me voltes
E na angústia de escuros cantos
Continuam minhas lágrimas, fortes
Perdidas em dolorosa mansidão.
terça-feira, 4 de maio de 2010
Sofro
Sinto, cada vez mais, a agonia de me escapares aos poucos. É como saber que jamais serás meu, mas também jamais conseguir reconhecer isso. É como estar diante do abismo e não querer enxergar a morte, ou até não querer morrer. Me escapas diariamente, como uma coisa que já faz parte da rotina; como arrumar a cama, escovar os dentes, ler, fumar um cigarro... e assim te perco. Perco aquilo que jamais tive, desfaço tudo aquilo que sempre esteve apenas no imaginário e derramo lágrimas por algo que ainda não pude viver. Vou, aos poucos, enxergando que sempre estive só e que nunca foste parte real de mim. Assim como te perco, me perco tanto em dor, pois dói tanto perder aquilo que nunca tivemos. Dói tanto saber que as recordações são poucas, intensas e poucas recordações. Vontade de mais.
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